sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Representação cartográfica do processo eleitoral e democracia

Tem atraído minha atenção a quantidade de mapas elaborados na intenção de comunicar ao eleitor o resultado eleitoral e suas características regionais. No entanto, a valorização da cartografia sem a devida atenção aos métodos de representação, tem contribuído para uma compreensão equivocada da realidade, ao invés, de revelar a complexidade do processo eleitoral.

Representações que tratam apenas do candidato vencedor de cada território levam uma comunicação equivocada de homogeneidade. Como se em algum lugar todos os eleitores tivesse feito uma única escolha. Essa representação não contempla o resultado das urnas.

Representações binárias de fenômenos sociais tendem a alimentar interpretações binárias desses fenômenos.

Apresento abaixo um mapa que tem o objetivo de representar a porcentagem de cada candidato por estado. Entendo que esse mapa é necessário para que possamos compreender nossa própria diversidade de opiniões. É fundamental numa sociedade democrática o reconhecimento da opinião divergente. Aquele que não concorda comigo existe e é um sujeito tão qualificado a fazer escolhas como eu. Esse é o ponto de vista que pretendo defender.

Mesmo em estados com maior polarização como, por exemplo, em São Paulo, Estado onde o candidato do PSDB obteve um excelente desempenho, 35,7 % dos eleitores optaram pela candidatura governista. Na outra ponta, na Bahia onde Dilma obteve pouco mais de 70% dos votos, algo em torno de 30% dos eleitores optaram pela candidatura oposicionista. Os casos acima são extremos, na maioria dos estados encontrou-se um equilíbrio maior.

Levando em conta que a diferença entre os candidatos foi inferior a 2% como poderíamos desqualificar o divergente sem fomentar uma visão segregacionista na sociedade?



Métodos

Trabalhei com dados em porcentagem, como método de representação utilizei símbolos graduados, nesse método o técnico estabelece o tamanho máximo e mínimo para a forma que ira representar a quantificação do fenômeno. Os agrupamentos foram construídos de forma manual uma vez que os dados dos dois candidatos precisavam de uma divisão em agrupamentos semelhante e isto não foi possível por nenhum método automático.

Dessa forma o primeiro grupo de ambos foi do seu piso até 40%, o segundo de 40% a 50% e o terceiro até 65%. Esse foi o valor máximo que a candidatura de Aécio Neves obteve. Já Dilma Rousseff atingiu a casa dos 78%, assim para a referida candidata construí uma última classe de agrupamento. Dessa forma as frequências relativas ao candidato Aécio ficaram distribuídas em três grupos e as frequências da candidata Dilma em quatro, a última agrupando os valores que ficaram acima de 65%.

Na definição do tamanho mínimo da simbologia de cada um, busquei uma equivalência através da aplicação de uma regra de três, de forma que o valor inicial da candidatura oposicionista, em torno de 22% dos votos válidos, fosse proporcional ao tamanho do valor mínimo da candidatura da situação, pouco mais de 35% dos votos válidos. Para os valores máximos busquei o mesmo resultado procedendo da mesma maneira.

Ao utilizar uma cor neutra para a representação do território procurei comunicar uma visão na qual o Brasil continua e continuará pertencendo ao povo brasileiro, independente do resultado da eleição. O que se disputa em uma eleição é tão somente a gestão do governo federal, não está em disputa o Estado, quem dirá o território brasileiro.

Termino essa postagem pedindo mais rigor nas técnicas de representação, mais visão crítica na leitura das técnicas de representação. Mapas e gráficos são instrumentos de síntese por demais valiosos, devemos trabalhar por sua popularização, contudo não devemos nos omitir frente a eventuais deturpações.
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