Nos últimos dias tem sido discutido amplamente o peso dos votos
nulos, brancos e abstenções no resultado da última eleição. É
recorrente a afirmação de que esse processo de esvaziamento da
participação da população no pleito eleitoral tem sido contínuo
no tempo. Entretanto nos perguntamos se ele tem sido regularmente
distribuído no território e se essa distribuição tem se mantido
inalterada.
Acreditamos que essas respostas possam ajudar a compreender o
processo que vivemos.
Para responder as questões acima, tomamos para essa análise os dados
do município de São Paulo no primeiro turno nos anos de 2012
dados de votação para prefeito, 2014 dados para a votação de
governador e 2016 dados para votação de também de prefeito.
Utilizando dados do TSE agrupando em uma única classe abstenções,
brancos e nulos. Considerados na proporção para eleitores aptos
sempre para o pleito em questão. Utilizamos como método de
distribuição das frequências os quartis para todos os dados.
Observe que para o ano de 2012 as maiores concentrações de votos
brancos, nulos e abstenções concentram-se no centro expandido. Esse
padrão é alterado para o ano de 2014, nesse ano a abstenção
desloca-se para as regiões periféricas restando no centro apenas as
proximidades do Brás e da Sé com alta concentração de votos
brancos, nulos e abstenções.
Nos parece evidente uma alteração de percepção da realidade que
alijou setores antes com maior engajamento no processo eleitoral.
Essa alteração de percepção por outro gerou um engajamento maior
de atores antes menos envolvidos no processo.
Vale recordar o que de mais relevante ocorreu nesse período. As
manifestações de 2013 que varreram o país. Nos parece a hipótese
mais razoável para a explicação do fenômeno de inversão no
padrão espacial entre votos brancos, abstenções e nulos. No
entanto outros fatores também podem ter contribuído como a própria
deterioração da economia.
Assim como o aprofundamento do processo de abstenções, brancos e
nulos já demandará a inclusão de outros fatores na análise esse
não é o nosso foco.
Em 2016 temos o patamar das abstenções subindo para a casa dos 30%
por zona eleitoral, encontrando suas máximas próximas de 40%. A
tendência de maior participação do centro se mantêm com a exceção
da região da Sé e Brás, tendência já presente em 2014, o extremo
sul mantém sua abstenção estável entre 2014 e 2016 em um cenário
de deterioração da participação nas eleições.
Por fim, lembramos que a maior parte dos dados tem alguma componente geográfica, isso nos permite afirmar que a análise geográfica é essencial para uma
compreensão correta da realidade. Aqui demonstramos como a abstenção é um fenômeno variável pelo território apresentando inclusive mudança de padrão espacial no tempo.