Tem atraído minha atenção a quantidade de mapas elaborados na
intenção de comunicar ao eleitor o resultado eleitoral e suas
características regionais. No entanto, a valorização da
cartografia sem a devida atenção aos métodos de representação,
tem contribuído para uma compreensão equivocada da realidade, ao invés,
de revelar a complexidade do processo eleitoral.
Representações que tratam apenas do candidato vencedor de cada
território levam uma comunicação equivocada de homogeneidade. Como
se em algum lugar todos os eleitores tivesse feito uma única
escolha. Essa representação não contempla o resultado das urnas.
Representações binárias de fenômenos sociais tendem a alimentar
interpretações binárias desses fenômenos.
Apresento abaixo um mapa que tem o objetivo de representar a porcentagem de cada candidato por estado. Entendo que esse mapa é necessário para que possamos compreender nossa própria diversidade de opiniões. É fundamental numa sociedade democrática o reconhecimento da opinião divergente. Aquele que não concorda comigo existe e é um sujeito tão qualificado a fazer escolhas como eu. Esse é o ponto de vista que pretendo defender.
Apresento abaixo um mapa que tem o objetivo de representar a porcentagem de cada candidato por estado. Entendo que esse mapa é necessário para que possamos compreender nossa própria diversidade de opiniões. É fundamental numa sociedade democrática o reconhecimento da opinião divergente. Aquele que não concorda comigo existe e é um sujeito tão qualificado a fazer escolhas como eu. Esse é o ponto de vista que pretendo defender.
Mesmo em estados com maior polarização como, por exemplo, em São
Paulo, Estado onde o candidato do PSDB obteve um excelente
desempenho, 35,7 % dos eleitores optaram pela candidatura governista.
Na outra ponta, na Bahia onde Dilma obteve pouco mais de 70% dos
votos, algo em torno de 30% dos eleitores optaram pela candidatura
oposicionista. Os casos acima são extremos, na maioria dos estados
encontrou-se um equilíbrio maior.
Levando em conta que a diferença entre os candidatos foi inferior a
2% como poderíamos desqualificar o divergente sem fomentar uma visão
segregacionista na sociedade?
Métodos
Trabalhei com dados em porcentagem, como método de representação
utilizei símbolos graduados, nesse método o técnico estabelece o
tamanho máximo e mínimo para a forma que ira representar a
quantificação do fenômeno. Os agrupamentos foram construídos de
forma manual uma vez que os dados dos dois candidatos precisavam de
uma divisão em agrupamentos semelhante e isto não foi possível por
nenhum método automático.
Dessa forma o primeiro grupo de ambos foi do seu piso até 40%, o
segundo de 40% a 50% e o terceiro até 65%. Esse foi o valor máximo
que a candidatura de Aécio Neves obteve. Já Dilma Rousseff atingiu
a casa dos 78%, assim para a referida candidata construí uma última
classe de agrupamento. Dessa forma as frequências relativas ao
candidato Aécio ficaram distribuídas em três grupos e as
frequências da candidata Dilma em quatro, a última agrupando os
valores que ficaram acima de 65%.
Na definição do tamanho mínimo da simbologia de cada um, busquei
uma equivalência através da aplicação de uma regra de três, de
forma que o valor inicial da candidatura oposicionista, em torno de
22% dos votos válidos, fosse proporcional ao tamanho do valor mínimo
da candidatura da situação, pouco mais de 35% dos votos válidos.
Para os valores máximos busquei o mesmo resultado procedendo da
mesma maneira.
Ao utilizar uma cor neutra para a representação do território
procurei comunicar uma visão na qual o Brasil continua e continuará
pertencendo ao povo brasileiro, independente do resultado da eleição.
O que se disputa em uma eleição é tão somente a gestão do
governo federal, não está em disputa o Estado, quem dirá o
território brasileiro.
Termino essa postagem pedindo mais rigor nas técnicas de
representação, mais visão crítica na leitura das técnicas de
representação. Mapas e gráficos são instrumentos de síntese por
demais valiosos, devemos trabalhar por sua popularização, contudo
não devemos nos omitir frente a eventuais deturpações.
Excelente texto e contribuição. Lembrei logo do livro “How to Lie with Maps”, de Mark Monmonier e do artigo do Dr. Gilberto Camara COMO MENTIR COM MAPAS (SEM O SABER...) Link http://www.dpi.inpe.br/gilberto/infogeo/infogeo15.pdf
ResponderExcluirLuiz, muito boa lembrança e excelente a indicação do texto do Prof Gilberto Câmara.
ResponderExcluirMuito bom. Seria possível fazer um mapa usando o total de votos para cada candidato, por estado? A maior bola seria a dos votos para o Aécio, em São Paulo, e a menor bola seria das votações de até 200.000 votos, por exemplo. Obrigado.
ResponderExcluirObrigado. Vou guardar esse mapa e divulgar entre os amigos.
ResponderExcluirCláudio, embora parece uma única variável, que seria a votação, do ponto de vista do trabalho de representação de dados são duas: votação da candidata Dilma e votação do candidato Aécio. Quando se precisa representar duas variáveis e estabelecer uma ordem de grandeza entre elas é preciso antes normalizar as mesmas. Para fazer isso nesse post utilizei porcentagens. Outros Leitores solicitaram a mesma representação, vou fazer alguns testes utilizando outras maneiras para normalizar os dados e adequar sua escala e visualização e apresentarei os resultados assim que possível.
ResponderExcluirConforme havia me comprometido realizei alguns testes sobre a representação do total de votos de cada candidato e sua relação com o todo. Para essa representação tive que normalizar os dados de cada candidato na sua relação com o todo nacional, fizesse da outra forma (votos válidos por Estado) não teria uma visualização do papel, do peso, da sua votação por Estado e a importância dela no resultado do total do país.
ResponderExcluirOcorre que não foi possível obter uma visualização satisfatória. Quanto representamos a informação por percentual o círculo do que seria o total, nesse caso 100%, é constante. Já com os valores totais em votos é variável. Assim para que o círculo com a votação de São Paulo (31.376.813 eleitores) caiba na geometria do Estado o símbolo correspondente ao Estado de Roraima que tem menos de 300.000 eleitores não obteria uma boa visualização. Se força-se valores mínimos e máximos que se adequassem ao tamanho dos polígonos estaríamos deformando a representação da realidade.
No mapa em porcentagens inserimos valores apenas para adequar ao número de classes que se faziam necessárias para uma comparação correta utilizando sempre uma relação com os dados originais. Nesse caso para representar de forma adequada teríamos que apresentar os dados em um mapa sem escala fixa. Ficarei devendo essa representação. Abraços!